segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Racismo Cordial

(Este é um post de Fevereiro de 2011 que só hoje resolvi publicar).

Hoje conheci uma expressão que faz todo o sentido: "racismo cordial". É aquele racismo presente nas músicas e expressões que fazem parte da cultura brasileira. Lembrei-me da discussão em torno da proibição dos livros de Monteiro Lobato, que retratou os costumes de sua época e em momento algum tinha como objetivo propagar o racismo. Entretanto, como sofri na pele a discriminação racial, deponho no sentido de que é constrangedor para crianças negras ter uma leitura desse tipo em sala de aula se não for acompanhada de orientação por parte dos professores no sentido de que se trata de uma época diferente e que hoje entendemos o quanto foram prejudicadas pessoas por esse comportamento inaceitável, que fere o respeito e dignidade dos cidadãos.

Crianças são crueis, sinto muito informar. Elas sabem que seus comentários podem ferir, apenas não entendem a dimensão disso. Cabe a nós, pais, garantir que nossos filhos tenham noções de civilidade; compete aos professores saber conduzir em sala de aula uma discussão saudável. Se não for assim, realmente não sei se os alunos terão maturidade para ler Monteiro Lobato.

Descobri esta manhã, ouvindo rádio, que alguém teve o despautério de regravar "mas como a cor não pega, mulata, mulata eu quero teu amor". E foi uma mulher quem regravou. No mínimo é negra também e acha que, por causa disso, pode cantar o que quiser. Nos Estados Unidos a expressão "nigger", que seria um "negão", é censurada como um palavrão, porque tem um caráter discriminatório e ofensivo. Por que uma canção, que é um clássico, mas é ofensiva, precisa ser regravada? Enquanto era uma música "de época" ela não me afetava, mas ao ouvi-la nas rádios de hoje, senti-me profundamente ofendida.

(Adendo atual)

Renato Aragão disse que no passado os negros não se ofendiam com piadas sobre sua cor. Não concordo: penso que eles apenas não podiam se ofender, porque se o fizessem, seria ainda pior. Aprenderam a rir disso, engolir a seco e fingir que levam na esportiva. Eu não aprendi. Aprendi, isso sim, que não devemos debochar da condição física de ninguém, e fico feliz porque a sociedade evoluiu para pensar assim. Falta muito, mas estamos a caminho.

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